NO OLHO DO TORNADO

30/08/2014 00:12

 

Cotação: 2/ 5

 

No Olho do Tornado, filme escrito por John Swetnam e dirigido por Steven Quale, é uma mistura desastrosa de Twister, JackAss e todos os filmes que se utilizam do formato “mockumentary” desde os tempos de Bruxa de Blair. Neste sentido, não é de se espantar que uma miscelânea dessas terminasse em algo que só não é completamente pavoroso graças aos interessantes efeitos visuais, já que o “roteiro” não passa de uma coletânea de clichês extraídos de uma meia-duzia de filmes-catástrofes e outras porcarias do gênero.

Iniciando sua história a partir do momento em que jovens universitários americanos (leia-se: bobos) estão compartilhando um momento qualquer dentro de um carro que encontra-se parado no meio da rua (e que o filme tampouco explica mais do que isso), os jovens logo são surpreendidos por um tornado que vem em sua direção. Assim, como não poderia deixar de ser, um desses “brilhantes” jovens decide sair do carro para filmar o evento (algo bem mais verossímil do que simplesmente sair fugindo para longe dali), o que acarreta na morte dos jovens. Seria trágico, se a cena não fosse escrita de forma tão estúpida e implausível.

Aliás, implausível, em primeiro lugar, é a forma com que todos os personagens são concebidos pois a rigor, todos eles são burros, clichês e aborrecidos, do tipo que resolvem se esconder em lugares de fácil acesso dos tornados ao invés de procurarem um lugar mais seguro (a cena onde uma multidão de “lesos” se esconde num corredor de uma escola, cercados ainda por vários armários é hilária pela estupidez com que ocorre). Além disso, cada suposto arco dramático do filme é concebido a partir de clichês tão antigo quanto o próprio cinema: assim, temos a equipe de documentaristas caçadores de tornados encabeçados por Pete (Matt Walsh), cujo temperamento colide diretamente com a racional Allison (Sarah Wayne Callies), pois para Pete seria muito mais produtivo ter na equipe alguém que seguisse o instinto do que dados científicos. Bem lógico.

Além disso, temos o viúvo Gary (Richard Armitage) cuja introspecção levou-o ao gradual afastamento emocional dos filhos Trey (Nathan Kress) e Donnie (Max Decon). O primeiro, não passa de um espertalhão cujas ideias são vistas com bons olhos pelo pai, em certo momento da trama, mesmo estas ideias se revelando equivocadas. E o segundo, é o típico primogênito com problemas de relacionamento com o pai e que tenta superá-las tentando estabelecer-se, mesmo essa tentativa sendo a construção em vídeo de uma “cápsula do tempo”, outro tipo de clichê que se conduz para uma situação pretensamente dramática onde ambos terão o momento perfeito para fazerem as pazes. Outro clichê bobo e esquemático que só existe para tentar estabelecer algum instante particular de catarse.

Aliás, se existe um instante desse é na expectativa que se cria sobre quem daqueles personagens poderá morrer, não porque tememos a vida deles, mas porque são tão chatos e estereotipados que acabamos torcendo para que alguns deles tivessem uma morte coletiva e que possibilitasse, sei lá, um novo filme, talvez. Isso chegou a acontecer com certos personagens odiosos, mas o filme nos frustra ao trazê-los vivos no final. Pois, assim como Twister, este filme segue à risca a convenção de que filme-catástrofe que se preza deve manter vivos seus personagens, por mais aborrecidos que possam parecer e por mais implausível que seja a situação.

Desta forma, o roteiro esquemático soa tão previsível que quando você ouve um personagem dizer pro outro “você vai sair daqui vivo e vai tomar umas margaritas com sua noiva pra comemorar”, fica evidente que esta margarita nunca rolará, posto que o sujeito possivelmente será limado em algum ponto do filme. Ah, e também tem as mulheres do filme que, como toda mulher de blockbuster hollywoodiano, apresentará um indefectível “brilho no rosto” depois que algum “macho-alfa” a resgatar do perigo ou apenas lhe trazer algum conforto sentimental. E o que dizer do pavoroso arco-dramático de Pete, quando o roteiro tenta estabelece-lo como vilão só para depois pintá-lo como um mártir minutos depois?

Por essas e outras, reafirmo o que disse parágrafos atrás: No Olho do Tornado só não é uma ruindade completa graças aos seus efeitos visuais que, se não são brilhantes, ao menos não embaraçam mais do que o roteiro, o que já é um alívio. E a cena trazendo um carro-tanque flutuando no “olho do tornado” só para instantes depois despencar é a melhor coisa que o filme produziu, mostrando-se plasticamente bela e tecnicamente eficaz.

Mas que não sobrevive a um filme que, por tentar impor histórias insossas e sem brilho acabam boicotando a tentativa posterior do filme em criar algum tipo de drama ou comoção com as situações-limite do terceiro ato. E desaba de vez ao trazer os sobreviventes em entrevistas que acabam soando como tentativas malsucedidas do filme em passar alguma lição de moral sobre a “fragilidade ou mesmo superficialidade da vida”. Isso sem falar mais uma vez dos dois personagens odiosos que aparecem sãs e salvos no plano final e que contribuem para tornar este filme numa experiência esquecível e besta.

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